Pular para o conteúdo principal

Dirceu para quem não gosta de política

[Publicado orinalmente no facebook.]

 
Você aí que não gosta de política. Eu entendo você. Você pensa em partido, burocracia, egoísmo, corrupção, Brasília, falsa promessa e todo aquele papo intragável dos adultos na mesa de jantar da sua infância, quando o que você mais queria era ir pro seu quarto assistir à TV. Política, de fato, é um porre. Estou de acordo. Essa aí é.

Mas há uma outra que talvez você nunca tenha chamado pelo nome, que é aquela da qual você participa na sua vida familiar, social e amorosa, aquela que você — queira ou não — pratica todos os dias para conviver e lidar com as pessoas ao seu redor, principalmente quando elas são diferentes de você, ou mesmo contrárias a você, até o limite do insuportável.

Essa política não tem siglas, legendas, bandeiras, é apenas feita de pessoas de carne e osso e umas ideias malucas na cabeça que você não faz a menor ideia de como foram parar ali. E, às vezes, você se surpreende com as coisas de que essas pessoas são capazes de fazer, normalmente coisas que você nunca faria com ninguém, mas que — imagine! — elas fizeram sem a menor cerimônia e nem se preocuparam em pedir desculpas a você. E o mais incrível é que essas pessoas nem sempre eram aquelas que você considerava ter ideias tão malucas assim. Eram pessoas nas quais você acreditava, tinha confiança, quem sabe até amava...

Que raiva que dá, não é mesmo?...

"Você acredita que fulano fez isso?", corre você a perguntar ao seu melhor amigo, com a indignação de quem foi pego de surpresa, como se fosse a primeira vez na vida que isso acontecesse. Pois é. Fulano fez isso sim. Eu acredito. Fulanos fazem cada coisa que você nem imagina... E o problema é justamente esse: você nem imagina. Você não ampliou o seu imaginário o suficiente para conceber as barbaridades infinitamente maiores de que as pessoas são capazes de fazer e para poder evitar ou lidar serenamente com aquelas que você enfrenta no seu dia a dia.

Mas ainda está em tempo.

Ainda está em tempo de você descobrir não somente o que uma única pessoa é capaz de fazer de ruim para as outras, ou como ela faz isso, mas também de imaginar o que seria de um país onde todos fossem exatamente como você era (antes de começar a ler este texto, ok?). Um país onde os bárbaros se passassem por gente comum, e fossem ganhando cada vez mais força, cada vez mais poder, cada vez mais mais meios de ação para impedir que os outros os reconheçam, sem que quase ninguém — por isso mesmo — mostrasse a você o quão bárbaros eles são e sempre foram, ainda que alguns o fizessem em vão.

A biografia de um bárbaro, quando bem feita, é sempre um antídoto para qualquer ingenuidade pessoal: é o exemplo fundamental de boa parte do que há de pior na humanidade, em todos os seus aspectos cotidianos, justamente para que você se torne — pelo assombroso contraexemplo — uma pessoa melhor; mais madura e preparada para as relações existentes na sua própria vida.

Você não precisa gostar de política para se interessar pela trajetória humana de crimes, farsas e manipulações de um "chefe de quadrilha". Você só precisa abandonar aquela ideia maluca de deixar a sua imaginação tão pobre.

A política é, antes de tudo, feita por pessoas. E é delas — inclusive das mais intragáveis — que você precisa saber.

Então esqueça o papo de adulto na mesa de jantar e leve já para o seu quarto estaobra imprescindível de Otávio Cabral — editada pelo bravo Carlos Andreazza, pela Record.

Eu garanto: não há um vilão à altura na TV.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Símbolos e Significados

A palavra "símbolo" é derivada do grego antigo  symballein , que significa agregar. Seu uso figurado originou-se no costume de quebrar um bloco de argila para marcar o término de um contrato ou acordo: cada parte do acordo ficaria com um dos pedaços e, assim, quando juntassem os pedaços novamente, eles poderiam se encaixar como um quebra-cabeça. Os pedaços, cada um identificando uma das pessoas envolvidas, eram conhecidos como  symbola.  Portanto, um símbolo não representa somente algo, mas também sugere "algo" que está faltando, uma parte invisível que é necessário para alcançar a conclusão ou a totalidade. Consciente ou inconscientemente, o símbolo carrega o sentido de unir as coisas para criar algo mair do que a soma das partes, como nuanças de significado que resultam em uma ideia complexa. Longe de objetivar ser apologética, a seguinte relação de símbolos tem por objetivo apenas demonstrar o significado de cada um para a cultura ou religião que os adotou.

Como se constrói uma farsa?

26 de maio de 2013, a França produziu um dos acontecimentos mais emblemáticos e históricos deste século. Pacificamente, milhares de franceses, mais de um milhão, segundo os organizadores, marcharam pelas ruas da capital em defesa da família e do casamento. Jovens, crianças, idosos, homens e mulheres, famílias inteiras, caminharam sob um clima amistoso, contrariando os "conselhos" do ministro do interior, Manuel Valls[1]. Voltando no tempo, lá no já longínquo agosto de 2012, e comparando a situação de então com o que se viu ontem, podemos afirmar, sem dúvida nenhuma, que a França despertou, acordou de sua letargia.  E o que provocou este despertar? Com a vitória do socialista François Hollande para a presidência, foi colocada em implementação por sua ministra da Justiça, Christiane Taubira,  a guardiã dos selos, como se diz na França, uma "mudança de civilização"[2], que tem como norte a destruição dos últimos resquícios das tradições qu

Pai Nosso explicado

Pai Nosso - Um dia, em certo lugar, Jesus rezava. Quando terminou, um de seus discípulos pediu-lhe: “Senhor, ensina-nos a orar como João ensinou a seus discípulos”. È em resposta a este pedido que o Senhor confia a seus discípulos e à sua Igreja a oração cristã fundamental, o  Pai-Nosso. Pai Nosso que estais no céu... - Se rezamos verdadeiramente ao  "Nosso Pai" , saímos do individualismo, pois o Amor que acolhemos nos liberta  (do individualismo).  O  "nosso"  do início da Oração do Senhor, como o "nós" dos quatro últimos pedidos, não exclui ninguém. Para que seja dito em verdade, nossas divisões e oposições devem ser superadas. É com razão que estas palavras "Pai Nosso que estais no céu" provêm do coração dos justos, onde Deus habita como que em seu templo. Por elas também o que reza desejará ver morar em si aquele que ele invoca. Os sete pedidos - Depois de nos ter posto na presença de Deus, nosso Pai, para adorá-lo