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O diabo realmente existe?

Para muitos, o diabo é um símbolo inventado pra explicar o mal no mundo e para eximir-se do mal cometido. Por outro lado, como um Deus Amor poderia ter criado um ser tão malvado e permitir que ele agisse? Reconhecer que o diabo existe suporia reconhecer que existe um deus do mal contra quem o Deus dos cristãos não tem poder algum.

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Os demônios são criaturas celestes, anjos criados por Deus, mas que, por orgulho, se rebelaram contra Ele e incitaram o homem a fazer a mesma coisa. No entanto, nas últimas décadas, parece que muitos teólogos se “esquecem” da existência do diabo, enquanto o satanismo está “na moda” entre os jovens. Como disse Beaudelaire, “a maior astúcia do demônio é a fazer acreditar que ele não existe”.

A fé cristã afirma a existência do demônio, mas proclama que seu poder é limitado. Não existe um “deus do mal”: o demônio é uma criatura submetida ao poder de Deus.
Os cristãos reconhecem, desde sempre, a existência de um ser maligno – ou vários seres malignos – de natureza angélica, cuja atuação se dirige a afastar o homem de Deus, submetendo-o às forças do mal, por meio da tentação. De fato, Cristo se fez homem e morreu na cruz para libertar o homem desse estado de sofrimento em que se encontrava devido ao pecado original. A existência do demônio faz parte, portanto, da verdade revelada.
No entanto, a crença cristã é muito diferente da de outras religiões: não existe um “deus do mal”, oposto ao Deus do bem. Ao contrário, segundo a teologia católica de São Tomás de Aquino, o mal não existe em si mesmo, mas como ausência de bem, como rejeição do amor de Deus. Segundo a doutrina cristã, o demônio pode incitar o homem ao mal, mas não pode tirar sua liberdade; não tem poder sobre a sua alma se o homem não lhe conceder isso.
O demônio é um anjo criado por Deus – na tradição cristã, recebe os nomes de Satanás ou Lúcifer – que usou a sua liberdade para opor-se ao amor divino. Deus permite a sua existência e a sua rebeldia, mas o demônio está submetido ao seu Criador, como as demais potências angélicas. Esta é uma das razões pelas quais a teologia cristã não se preocupou muito com o demônio em si, mas com como Cristo conseguiu a vitória sobre ele e como combater o seu poder na vida cristã.
A Bíblia, particularmente os Evangelhos, bem como o Magistério e a vida dos santos, dão testemunho da existência do demônio.
O Antigo Testamento considera os anjos e os demônios como criaturas de Deus, Criador de tudo o que é visível e invisível. Mas os textos que falam de Satanás no Antigo Testamento são muito raros. É depois do exílio da Babilônia que se nota uma evolução: o mal entre os homens vem de Satanás (“satan”, em hebraico, significa “adversário”), devido ao pecado de Adão (Gn 3), quando, “pela inveja da serpente, a morte entrou no mundo” (Sb 2, 24). Satanás é o tentador, o acusador, o adversário de Deus (Zc 3, 1-7, Jó 1, 11). Quase dois séculos antes de Cristo, a comunidade monástica de Qumram, às margens do Mar Morto, elaborou uma demonologia estruturada.
Mas é nos quatro Evangelhos que a presença de Satanás adquire uma densidade particular: é um adversário real, inimigo de Cristo e do seu Reino. Jesus se dirige a Satanás, sem dúvida alguma, para repreendê-lo e fala dele como de “alguém”. São conhecidas as passagens das tentações no deserto (Mt 4, 1-11) e dos numerosos exorcismos que Jesus realizou (Cafarnaum: Mc 1, 23-28; Gerasa: Mt 8, 28-34; a filha da cananeia: Mc 7, 25-29 – entre outros). Os escritos apostólicos e o Apocalipse recolhem esta vitória de Cristo, que se consumará no final dos tempos.
O Magistério e a Tradição da Igreja, tanto no ensinamento como na liturgia, abordaram sempre esta verdade. O Catecismo da Igreja Católica fala do demônio cerca de 40 vezes. Também a vida de muitos santos, que tiveram experiência direta de luta contra o demônio, constitui um testemunho sobre a sua existência.
Esta permissão que Deus dá aos demônios para perturbar a vida dos seus é um grande mistério: é o mistério do mal.
Por que Deus, se é bom, todo-poderoso e detesta o mal, permite que os demônios ajam e tenham poder sobre o homem? É um grande mistério, o “mysterium iniquitatis”. Deus criou o homem – e os anjos – por amor e deseja que o homem o ame em troca. Mas não existe amor sem liberdade, razão pela qual Deus dá espaço ao homem para que este escolha amá-lo. Só Deus possui uma liberdade perfeita, incapaz de escolher o mal. O homem e os anjos podem rejeitar esse amor.
Por que Deus não destruiu os anjos caídos? Há duas razões: a primeira é que Deus respeita essa liberdade que Ele mesmo oferece; a segunda é que, de alguma maneira, Deus se serve também deles para realizar seus desígnios. Santo Agostinho afirma que Deus não permitiria o mal se não fosse para tirar dele um bem maior. De fato, é o que acontece com a história da redenção, na qual o mal é finalmente vencido pelo bem. Deus redimiu o mundo do pecado, mas sem deixar de respeitar a liberdade do homem, que pode acolher ou rejeitar esta redenção.
Os cristãos acreditam que a vitória definitiva do bem e a destruição definitiva do mal se darão no final dos tempos. Enquanto isso, o tempo em que vivemos se caracteriza por esta luta entre o bem e o mal. A vida dos santos testemunha esta luta, às vezes face a face, com os demônios.
O poder de Satanás se manifesta de muitas formas; a possessão diabólica é somente uma manifestação extraordinária.
O demônio age de forma cotidiana na vida de cada pessoa, mediante a tentação e a sedução, para incliná-la a cometer o mal. Esta ação pode ser combatida mediante a oração e a prática das virtudes, com o auxílio dos sacramentos. A Igreja afirma que o homem não está condicionado absolutamente pela tendência ao mal, mas que pode combatê-lo com a ajuda da graça.
O demônio também pode se manifestar de forma extraordinária, mediante a possessão, a infestação, o assédio, a obsessão etc. Trata-se de fenômenos muito raros, nos quais Satanás chega a possuir o corpo – não a alma – de uma pessoa. A Igreja combate este fenômeno por meio do ritual do exorcismo, realizado por sacerdotes designados especificamente para isso por seu bispo.
No entanto, são poucos os casos de verdadeira possessão. Antes da prática do exorcismo, são realizados todos os tipos de exames médicos e psiquiátricos, para descartar a possibilidade de distúrbios psicológicos. Muitas das pessoas que sofrem de possessão diabólica realizaram práticas nigromânticas ou satânicas. Muito excepcionalmente, alguns santos experimetnaram esta dura provação.
Nos últimos anos, tem aumentado o número de seitas satânicas entre os jovens, mas também em relação a outros fenômenos sociais, como o tráfico de drogas e as práticas de magia.
Há cada vez mais adolescentes afetados pelo fenômeno do satanismo, que se tornou uma “moda” transgressora. O Pe. Benoît Domergue, especialista nestes fenômenos, afirma que atualmente, na França, existem aproximadamente 50 associações, que agrupam cerca de 5 mil indivíduos. O satanismo é tão preocupante, que as autoridades francesas se envolveram. Em 2006, a (Mission interministérielle de vigilance et de lutte contre les dérives sectaires) publicou um pequeno relatório sobre o satanismo, no qual alertava sobre este tipo de grupos.
Na Espanha, segundo um relatório elaborado em 2010 pela Red Iberoamericana para el Estudio de las Sectas (RIES), o número das seitas satânicas no país aumentou na última década, passando de 41, em 2001, a 61, em 2010. Estes grupos estariam relacionados a episódios de profanações e roubos sacrílegos em igrejas. Certos tipos de música metal (black metal, death metal, neometal) também constituem uma porta de entrada privilegiada para o satanismo. Este universo se torna ainda mais nebuloso por ser formado por muitos pequenos grupos, inexistentes do ponto de vista jurídico ou associativo.
Em países como a Colômbia, segundo denunciam alguns especialistas, o satanismo se vincula ao tráfico de drogas, como uma prática para “garantir” o êxito dessa atividade criminal, e também como forma de submetimento social. Outro caminho para a prática do satanismo é a bruxaria e a necromancia. Além do satanismo, existe outro tipo de seitas, chamadas “luciferinas”, que, sem chegar ao extremos do satanismo, promovem uma reinterpretação da queda do homem, invertendo os termos: Deus é o ser mau e Satanás e o ser bom que se rebela contra Ele.

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