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Sobre a problemática do Hábito Eclesiástico e os Seminaristas

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1- Existe confusão quando há desconhecimento.

O uso do hábito clerical é para clérigos. Entretanto, mesmo antes do Concílio vaticano II, a recepção de batina não se dava com a recepção da tonsura (que fazia do seminarista um clérigo). Sempre fora ritos diferentes. A batina era recebida, e usada, antes do candidato tornar-se clérigo. marcava sua entrada no Seminário. Sendo assim, por costume, em muitos seminários, mesmo depois do Concílio Vaticano II ( que não aboliu este costume, e tampouco o legislou), muitos seminaristas recebiam o hábito eclesiástico de uso diário. Acontece que houve da parte de muitos clérigos o desejo de não usar o hábito eclesiástico. Mesmo existindo uma lei atual sobre o assunto, não é pequeno o número de sacerdotes que passam adiante desta lei canônica sobre diversas justificativas. Isso já vem desde épocas remotas e o próprio Concílio de Trento já revogava tal pedido de certos clérigos. Há quem seja contra os erros do pensamentos da chamada Teologia da Libertação, mas a sua seiva habita nos que não veem necessidade do hábito, justificado de que o sacerdócio ministerial é equivalente ao sacerdócio comum dos fiéis, sendo assim o padre é apenas o que equivaleria a um líder de sindicato, um líder popular, um entre os demais. Ou ainda que Jesus se vestia como os demais. Um olhar atento aos Evangelhos mostrará o contrário. Os detratores do Concílio Vaticano II, mudaram a orientação da simplificação dos hábitos, ocorrida na legislação pós conciliar, para retirarem os mesmos por total.

2- É de direito a um seminarista diocesano usar hábito na legislação atual, isso seria um absurdo?

Não. Seria um absurdo fazer tal uso? Depende de quem são os formadores e qual o itinerário de formação que recebem os seminaristas. Há os que querem formar padres que não usem o hábito eclesiástico. Há os que querem que se use ocasionalmente. Há os que querem que se usem sempre, como legisla a lei canônica. O fato é que geralmente fazemos o que somos acostumados já a fazer. A virtude não vem de um dia para o outro, ela é a repetição dos atos bons. Geralmente, o seminarista de hoje é o sacerdote de amanhã. Se rezava todo o Ofício Divino como seminarista, o fará como padre, se guardava o celibato como seminarista, o guardará como padre, se sabia vestir-se como seminarista, o fará como padre, se tinha o costume de Missa diária como seminarista, o terá como padre. Embora exista exceções. Neste sentido é muito oportuno que seminaristas usem veste eclesiástica. O que ocorre é que em meio a um clero que não usa nada, o seminarista que usa algo, aparece como soberbo. Se os seminaristas vivem de modo diferente, estudam de modo diferente, moram em um lugar diferente, não devem se vestir iguais a todos. Em muitos seminários, mesmo quando não se usa como veste diária a batina ou o clerygman, muitos formadores recomendam a se vestirem moderadamente. O problema é que não há orientação oficial quanto a isso, o que gera impérios de vontade.

3- Um testemunho.

Em tempos passados aqui na Arquidiocese, um sacerdote em uma reunião do clero, foi reclamar com o então Arcebispo, o Cardeal Dom Eugenio Sales de que os seminaristas estavam usando batina demais. Ao que o Cardeal respondeu: "Pelo menos eles usam."

4- Sobre a veste do cerimoniário.

Observe-se que existem vestes restritas à cerimônias, mesmo para os padres. Um sacerdote não anda habitualmente de estola e sobrepeliz. É um conjunto para veste de culto, não sendo um hábito de uso diário em si. A batina usada por leigos (homens, pois não teria sentido uma mulher fazer uso de veste masculina), é de uso restrito a liturgia. Logo, um seminarista não poderia usa-la? Este não era o costume da Igreja. O homem leigo que veste batina está no culto para ajudar o culto, não está na preparação para ser sacerdote, não vive em um seminário. Porém, o uso da batina por um leigo em um culto, pode ser um sinal vocacional. Por isso, a Igreja sempre viu nos coroinhas, uma escola vocacional, e até hoje enfatiza a ênfase que deve ser dada aos meninos, mesmo que meninas possam ser admitidas no serviço do altar. É no altar que um jovem descobre e redescobre sua vocação sacerdotal, pois o sacerdote vive do altar e para o altar, pois a Igreja vive da Eucaristia e para a Eucaristia.

5- Há quem ache que usamos muitas roupas.

Mas geralmente não se faz este mesmo comentários para os soldados do exército, para os que trabalham em agências bancárias, para os médicos em hospitais, para os pastores evangélicos. Usam, por vezes, muito mais vestes do que nós sacerdotes. Se para cumprirem suas funções com zelo, tantas pessoas se revestem de sinais, de gestos, quanto mais nós homens do sagrado , que agimos na Pessoa de Cristo.
Quando eu vou ao médico quero vê-lo como médico. Quando estou na rua e procuro um policial, desejo que o mesmo esteja como policial. Estas vestes sinalizam quem são e o que fazem. Quando vou a Igreja não quero ver um gogoboy ou um modelo fotográfico, mas sim um sinal de sacralidade. Mas o que importa é o coração, argumentarão alguns. Se tal simplesmente fosse usaríamos na Igreja trajes de banho. Urge uma reeducação do uso das vestes na Igreja, seja para não cair no "externalismo" da vaidade, seja para não cair na dessacralização.

6- Conselho aos seminaristas.

Aos seminaristas aconselho sempre que obedeçam seus formadores e guardem sempre o desejo de fidelidade a Igreja. Quem não obedece o formador hoje, não obedecerá a legislação canônica amanhã. Se não podem usar hábito, vivam como se trajassem hábitos. Tenham "hábitos" do hábito e a legislação canônica os protegerá depois da ordenação para livremente usarem as vestes da Igreja e enfrentarem o martírio do testemunho. Como costumo dizer: "Batina não se veste, se vive."

Pe João Jefferson Chagas

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