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Gloriosa História da Igreja - IX




A Essência da Igreja: o que é, afinal, a Igreja?

Assim, como judeu zeloso, bem formado, respeitado e influente, Saulo resolveu tentar tudo o que podia para conter o que ele via, - baseado na mais elementar lógica humana, - como uma terrível e absurda heresia. E começou a perseguir os cristãos, não esporadicamente, mas de forma bastante concreta. Adquiriu cartas do Sinédrio em Jerusalém e passou a percorrer várias cidades, saindo com cartas até a Síria, que fica fora de Jerusalém.

Vai então para Damasco, capital da Síria até hoje, sabendo que lá existe uma comunidade de cristãos. Vai com uma espécie de mandato judicial para encarcerar os cristãos. Por quê? Porque para ele os cristãos eram um grupo de fanáticos perigosos que seguem um louco blasfemo. E aqui se cumpre aquilo que Jesus havia previsto: "...Virá a hora em que todo aquele que vos tirar a vida julgará prestar culto a Deus. (Jo 16,2)". Por fidelidade a Deus, iriam perseguir e matar os cristãos.

E lá está Saulo no caminho para Damasco. - Não sabemos se ele está a pé ou a cavalo, apesar de tantas imagens tradicionais que lhe retratam, literalmente, caindo do cavalo. A narrativa dos Atos dos Apóstolos, no entanto, não o especifica. - Caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: “Saulo, Saulo, por que me persegues?” Saulo disse: “Quem és, Senhor?” Respondeu a voz: “Eu sou Jesus, a quem tu estás perseguindo” (At 9,4).

Estamos diante de uma revelação. Vemos um homem que estava convicto de que fazia o bem por seguir Jesus, perseguindo a sua Igreja. Agora ele encontra este mesmo Jesus ressuscitado, como Luz que ilumina sua vida, e uma Luz tão forte que lhe provoca cegueira. E a voz do Senhor lhe esclarece. E como se deu a conversão de Saulo?

Sua conversão não foi individual. Não foi ele sozinho quem teve um contato com Jesus e resolveu mudar de vida. Sua conversão foi eclesial, isto é: desde o começo, essa conversão ocorreu a partir da Igreja, no seio da Igreja, com e para a Igreja.

Jesus Cristo identifica-se com a Igreja. Mostra e declara a Saulo, claramente, que existe uma identificação direta e inexorável entre Jesus e sua Igreja, e este é um grande e fundamental mistério da fé cristã. O Senhor diz a Saulo: "Por que me persegues?” (At 9,4), mas Saulo evidentemente não perseguia Jesus, que já havia ressuscitado e ascendido aos Céus. Saulo perseguia a Igreja, homens e mulheres frágeis e pecadores como eu e você. Para Saulo, não era a Jesus que perseguia e lançava na prisão, mas a homens e mulheres comuns. O próprio Cristo, no entanto, lhe revela de modo maravilhoso que aquilo que se faz a Igreja se faz a Jesus; perseguir a Igreja é perseguir Jesus, pois a igreja é, num sentido essencial, o próprio Jesus Cristo. Existe aí uma identificação

Para estudar a história da Igreja, precisamos antes de qualquer coisa entender o que é a Igreja. Precisamos conhecer a sua identidade. A Igreja é, de alguma forma, uma continuidade do fenômeno Jesus. A Igreja é a continuidade do Mistério da Encarnação divina. Deus, na Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, encarnou-se, fez-se homem, mas ao ascender aos Céus, deixou ainda seu Corpo no mundo e na História. Esse corpo chama-se Igreja.



Em sua primeira carta aos coríntios, capítulo 11, S. Paulo fala do Corpo de Cristo na Eucaristia, sendo oferecido na Santa Missa. No capítulo 12, ele deixa de falar no Corpo de Cristo na Eucaristia e começa a falar do Corpo de Cristo que somos nós, membros da Igreja, como a explicar o que entendeu naquela tremenda experiência de sua conversão:

“Porque, como o corpo é um todo tendo muitos membros, e todos os membros do corpo, embora muitos, formam um só corpo, assim também é Cristo. Em um só Espírito fomos batizados todos nós, para formar um só corpo, judeus ou gregos, escravos ou livres; e todos fomos impregnados do mesmo Espírito. Assim o corpo não consiste em um só membro, mas em muito (...) Ora, vós sois o corpo de Cristo e cada um, de sua parte, é um dos seus membros.”


A Igreja, portanto, é:

# O Corpo de Cristo, sendo a Cabeça é o próprio Cristo (1Cor 12,12-27);

# A porta de entrada para a vida cristã, pois é por meio dela que recebemos o Batismo que nos qualifica como filhos e filhas de Deus e, portanto, a entrada para o Caminho da Salvação, que é Jesus, além de todos os Sacramentos;

# A coluna e o sustentáculo da Verdade (1Tm 3,15);

# Aquela que possui autoridade para ligar e desligar no Céu e na Terra (Mt 16,17-19 e 18,18);

# Aquela que possui autoridade para perdoar ou para reter os nossos pecados (Jo 20, 22ss);

# Aquela que produziu, canonizou, traduziu e preservou a Bíblia Sagrada, dede o princípio até hoje;

# Una, reconhecendo um só Senhor, professando uma só fé e um só Batismo (Ef 4,4-5);

# A "Casa do Deus Vivo..." (1Tm 3,15);

# A Assembléia dos Santos reunida, o Povo de Deus, e muito mais...

** Compreendemos, assim, o supremo absurdo daqueles que proclamam que a Igreja não tem importância, e que cada um pode, individualmente, interpretar as Sagradas Escrituras para criar novas igrejas a qualquer tempo, conforme seus desejos e interesses, segundo apenas o seu próprio entendimento, independentemente da Igreja Una e Indivisível que foi instituída por Nosso Senhor e Deus.

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