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No caminho de Jesus

A escolha é entre  «ser cristãos do bem-estar» ou «cristãos que seguem  Jesus». Os cristãos  do bem-estar são os que pensam que têm tudo  se tiverem a Igreja, os sacramentos, os santos... Os outros são cristãos que seguem Jesus até ao fim, até à humilhação da cruz, e suportam serenamente tal humilhação. Em síntese, foi esta  a reflexão proposta pelo Papa Francisco na manhã de sexta-feira, 27 de Setembro, na homilia da missa celebrada na capela de Santa Marta.
O Santo Padre recordou quanto disse ontem a propósito dos diversos modos para conhecer Jesus: «com a inteligência – recordou hoje – com o catecismo, com a oração e  no seguimento». E fez a pergunta que está na origem desta busca do conhecer Jesus: «Mas quem é?». Contudo, hoje «é Jesus que faz a pergunta», assim como foi narrado por Lucas  no trecho do Evangelho lido esta manhã (9, 18-22). A pergunta de Jesus –  «quem dizem as pessoas quem eu sou?»  –  frisou o Pontífice,  que de genérica se transforma numa pergunta dirigida particularmente a pessoas específicas, neste caso aos apóstolos: «Mas vós quem dizeis que eu sou?».  Esta pergunta, prosseguiu «é dirigida também a nós neste momento, no qual o Senhor está no meio de nós, nesta celebração, na sua Palavra, na Eucaristia sobre o altar, no seu sacrifício. E hoje a cada um de nós Ele pergunta: mas para ti quem sou? O dono desta empresa? Um bom profeta? Um bom mestre? Uma pessoa que te faz bem ao coração? Que caminha contigo na vida, que te ajuda a ir em frente, a ser melhor? Sim,  tudo isto é  verdade mas não é tudo» porque «foi o Espírito Santo que tocou o coração de Pedro e lhe fez dizer quem era Jesus: És o Cristo, o Filho do Deus vivo». Quem de nós, prosseguiu o Pontífice na sua explicação, «na própria oração, olhando o tabernáculo, diz ao Senhor: tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo» deve saber duas coisas. A primeira é que «não o pode dizer  sozinho: deve ser o Espírito Santo quem o  diz nele». A segunda é que se  deve preparar «porque ele te responderá».
E neste ponto o Santo Padre deteve-se na descrição de diversas atitudes que um cristão pode assumir: quem o seguirá até a um certo ponto, quem diz que o seguirá até ao fim. O perigo que corremos, advertiu, é ceder «à tentação do bem-estar espiritual», isto é, de pensar que temos tudo: a Igreja, Jesus Cristo, os sacramentos, Nossa Senhora e, portanto, já nada devemos procurar. Se pensarmos assim «somos bons, todos, porque pelo menos devemos pensar nisto; se pensarmos o contrário é pecado». Mas isto «não basta. O bem-estar espiritual – explicou o Papa – existe até a um certo ponto». O que falta para ser cristão verdadeiramente é «a unção da cruz, a unção da humilhação. Ele humilhou-se a si mesmo até à morte e à morte de cruz. Este  é o termo de comparação, a  verificação da nossa realidade cristã. Sou um cristão de cultura do bem-estar ou sou um cristão que acompanha o Senhor até à cruz? Para compreender se somos os que acompanham Jesus até à cruz, o sinal justo «é a capacidade de suportar  as humilhações. O cristão que não concordar com este programa do Senhor é um cristão na metade do caminho; um tíbio. É bom, realiza coisas boas» mas continua a não suportar as humilhações e a perguntar-se «por que àquele sim e a mim não? A humilhação a  mim não. E por que acontece isto e a mim não? E por que nomeiam aquele monsenhor e a mim não?»
«Pensemos em Tiago e João – prosseguiu – quando pediram ao Senhor  o favor das condecorações. Não sabeis, nada entendeis, disse-lhes o Senhor. A escolha é clara: o Filho do homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos chefes dos sacerdotes e pelos escribas, morrer e ressuscitar ao terceiro dia».
«Mas todos nós? Queremos que se realize a última parte deste parágrafo. Todos queremos ressuscitar ao terceiro dia. É bom, é bom, devemos querer isto». Mas nem todos, disse o Papa, para alcançar o objectivo, estão dispostos a seguir este caminho, o caminho de Jesus: pensam que seja um escândalo se lhes fazem algo que julgam uma afronta e se lamentam por isso. Portanto, o sinal para entender «se um cristão é verdadeiramente cristão» é «a sua capacidade de suportar com alegria e paciência as humilhações». Isto «é desagradável», frisou o Papa Francisco,  e no entanto «há muitos cristãos que olham para o Senhor e pedem humilhações para se assemelharem mais com ele».

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