Pular para o conteúdo principal

O Bom Combate – Treinamento do soldado de Cristo

"Santificai a Cristo, o Senhor, em vossos corações, estando sempre preparados para responder a qualquer que pedir a razão da esperança que há em vós; fazei-o, porém, com mansidão e respeito, conservando a vossa boa consciência; para que, se em alguma coisa sois difamados, sejam confundidos aqueles que ultrajam o vosso bom comportamento em Cristo; pois será melhor que sofrais, – se esta é a Vontade de Deus, – por praticardes o bem do que praticando o mal." (1Pd 3,15)





A existência de tantos católicos confusos, – muitos angustiados, – só confirma a crise por que passa a Santa Igreja em nossos tempos. A má ou péssima formação de sacerdotes, a catequese quase completamente descuidada, o desleixo para com a Liturgia e a pregação apostólica, a falta de empenho na transmissão dos fundamentos da fé... Todos estes elementos constituem um conjunto de coisas que vitima inúmeras almas, tanto da parte dos progressistas alienados quanto da dos chamados “rad trads” (tradicionalistas radicais).

Diz o grande e santo Apóstolo Paulo, inspirado pelo Espírito de Deus, na Sagrada Escritura:

"Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a Coroa da Justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda." (2 Timóteo 4, 7-8)

Combater é preciso, talvez mais do que nunca. E sendo a missão de nosso apostolado antes de tudo a catequese, apresentamos esta série de postagens que pretende servir como introdução elementar à Doutrina. Esperamos que estes humildes estudos convertam-se em útil, apesar de singelo, instrumento para o treinamento dos bons combatentes, aqueles que desejam se tornar, de fato, soldados de Cristo.


Treinamento do Soldado de Cristo

I – A situação atual da Igreja


O soldado de Cristo precisa de conhecimento. É fundamental conhecer o terreno onde pisa, conhecer bem o campo de batalha, o tempo e o lugar onde acontece a guerra. Vejamos...

Cremos que é a Graça Divina que impulsiona o ser humano a procurar a Verdade, – que é sempre a mesma e nunca muda, mesmo submersa neste imenso mar de relativismo que nos rodeia, pois vivemos tempos de tremenda apostasia. – Os valores cristãos de sempre são contestados, desde a raiz. Horror dos horrores, a "Sã Doutrina", da qual falou o mesmo São Paulo, é hoje renegada até mesmo dentro da própria Igreja(!).


Dom Odilo Scherer, Cardeal Arcebispo de São Paulo, hostilizado na PUC – Pontifícia Universidade... Católica(?)

No Brasil e em toda a América Latina, a ideologia marxista tomou conta também, e talvezprincipalmente, das universidades e colégios católicos, assim como das mentes de boa parte do clero, formados sob o ideário da famigerada "'teologia' da libertação" (ou 'TL', que de 'teologia' não tem absolutamente nada e foi considerada por Bento XVI a pior heresia da História). Sim, João Paulo II, Bento XVI e agora Francisco condenaram a TL. Mas inúmeros padres (e bispos) do Brasil continuam enxergando, neste verdadeiro câncer, a proposta ideal para a Igreja "do Brasil" e "de hoje"; esquecendo-se de que a Igreja é, por sua própria natureza, universal e atemporal, e que por isso mesmo não pode haver "igreja do Brasil" ou "igreja da América Latina" e nem "igreja de hoje".

Todo esse estado de coisas se reflete nas pregações, nas celebrações litúrgicas, nas posturas e atitudes... E colabora de modo pesadíssimo para a confusão, a corrupção e a perdição de incontáveis almas. No clero, mesmo entre aqueles que são muito queridos e admirados por sua caridade, por seu trabalho social, pelos serviços comunitários e amor aos pobres... falta a fidelidade à Tradição, o amor à Liturgia, a adesão à autêntica fé da Igreja. De santos sacerdotes tornaram-se meros assistentes sociais.

Evidentemente, estamos lançando um brevíssimo olhar sobre um longo, complexo e delicado tema, a respeito do qual, àqueles que desejarem um aprofundamento maior, indicamos as já bem conhecidas aulas do Pe. Paulo Ricardo de Azevedo Jr., por serem extremamente elucidativas (podem ser acessadas neste link).

Em meio a todo este cenário ameaçador, há pelo menos uma boa notícia: nos tempos difíceis é que aparecem mais claramente os que são verdadeiramente fiéis. Já existe, – ganhando corpo e se organizando melhor a cada dia que passa, – um movimento de resistência à esta suja revolução daqueles que, de dentro, procuram corroer os alicerces da Santa Igreja.

Ao final desta muito simples apresentação do panorama atual da Igreja, e para conclui-la bem, repetimos o fundamento mais óbvio: a coisa importante a se compreender e manter sempre em mente, para não se perder no campo de batalha, é que a verdadeira doutrina cristã e católica se fundamenta sobre três pilares:Magistério, Tradição e Escritura.
|

II. Os três pilares da Fé cristã católica

Todas as vezes que um protestante ou um chamado "evangélico" desafia um católico para um debate, a primeira coisa que faz, antes mesmo de começar a apresentar suas argumentações, é pressionar o católico a aceitar que tudo o que será debatido precisará estar escrito, literalmente, na Bíblia. Está armada a cilada: quando o soldado católico aceita que tudo o que ele disser precisará ter "base bíblica", – subentendida como interpretação literal e superficial da Escritura, – entrou num beco sem  saída. Quando menos perceber, estará sendo surrado.

Isso acontece porque, quando aceita a premissa da Sola Scriptura (somente a Escritura), o católico comum se confunde e acaba se perdendo, até por não ter o hábito tão enraizado de ler a Bíblia regularmente, e menos ainda de memorizar trechos das Escrituras para usá-las quando tiver oportunidade, como fazem comumente os protestantes e "evangélicos". Portanto, ao invés de entrar no terreno do inimigo, aceitando usar as suas armas e combater conforme as suas regras, o católico deve já iniciar a peleja deixando muito claro que, para a nossa fé, o maior de todos os erros está justamente na Sola Scriptura!

Para entender exatamente o que estou tentando dizer, ouça abaixo os primeiros cinco minutos do debate entre o pastor "evangélico" Silas Malafaia (orador e polemista talentosíssimo) e o Pe. Antônio José (Par. N. Sª de Fátima do Meyer – RJ):



Diz o matreiro pastor: "Nenhum de nós é dono da verdade. Não é o que eu penso, não é o que você pensa; assim como na ciência o parâmetro para saber o que é verdadeiro e o que é falso é o experimento, na Teologia e no cristianismo o instrumento da verdade é a Palavra de Deus (Bíblia). A Palavra de Deus é que diz quem está com a verdade... Vamos fazer o teste da Palavra (Bíblia), e assim vamos ver quem está com a verdade..."

A partir daí, ele prossegue até o fim do debate, a todo instante, ao começo e ao final de cada assunto discutido, repetindo incansavelmente: "Está na Bíblia", "Não está na Bíblia", "Tem base bíblica", "Não tem base bíblica"..., e citando uma série de passagens memorizadas das Escrituras.

Não vou sequer mencionar que próprio mediador do debate é também "evangélico", e chega ao ponto de cortar o microfone do padre para dar ao pastor o tempo de chamar os católicos a deixarem a Igreja e aderirem àSola Scriptura, – o que já configura uma tremenda covardia contra o padre. – Este, porém, foi o primeiro erro, não o maior. O problema todo é que o pobrezinho do padre, ingenuamente, aceita o convite de Malafaia. E assim avança, desarmado e inocente, para o campo de batalha do inimigo, aceitando usar somente suas armas, do modo como será ferozmente trucidado.

Do mesmo modo, qualquer católico que cometa o mesmo erro sairá fragorosamente derrotado, – a não ser que seja um biblista bem formado e experiente, que dificilmente será o caso de um leigo. – Todo católico que aceita debater tendo a Bíblia como única regra da verdade e da mentira, imediatamente se coloca indefeso e exposto a todo tipo de ataque mortal.

E aqui vou ter que falar de algo que já falei algumas outras vezes neste site. – A batalha deve começar a ser vencida pelo soldado católico já antes do seu início: quando ele exige que a luta seja travada de maneira justa, em solo neutro, com regras igualmente neutras, cada qual usando as armas que prefere e que domina melhor, ao invés de aceitar debater no campo de batalha do inimigo, segundo suas regras e usando suas armas. E isto é algo realmente muito simples de se fazer: basta lembrar aos nossos  adversários que o cristianismo nunca, jamais se fundamentou exclusivamente na Bíblia, e para confirmá-lo basta lembrar que nos primeiros séculos do cristianismo a Bíblia cristã simplesmente não existia. Todas as vezes que a Bíblia menciona "Escrituras", está falando dos textos sagrados dos antigos judeus, a chamada Bíblia Hebraica, que é formada por 39 livros do Antigo Testamento divididos entre a Lei (Torá), os Profetas (Neviim) e os Escritos (Ketuvim).

Portanto, a Igreja primitiva não se orientava exclusivamente pela leitura da Bíblia, de modo algum, até porque haviam muitos livros circulando entre as primeiras comunidades cristãs que se acreditavam de autoria dos Apóstolos, que só foram considerados apócrifos (não autênticos) e inadequados para a instrução dos cristãos a partir do século IV, quando a Bíblia Cristã foi definitivamente canonizada pela Igreja Católica.

E mesmo depois da canonização, os cristãos não tinham acesso a Bíblia, como temos hoje, por várias razões: primeiro, antes da invenção da Imprensa, a Bíblia era copiada à mão, e o custo dos materiais e do serviço era caríssimo, assim como o da mão de obra dos copistas. Era totalmente impossível que cada fiel tivesse um exemplar da Bíblia em sua casa, para consultar quando quisesse, como acontece hoje. Segundo, na antiguidade a imensa maioria do povo era composta por iletrados, que simplesmente não sabiam ler, e muito menos compreender o conteúdo do Antigo Testamento e dos Evangelhos, dos Atos e das cartas dos Apóstolos. – O que aliás deu origem à arte sacra que hoje se confunde com idolatria: cenas bíblicas eram retratadas em forma de esculturas para facilita a compreensão do povo analfabeto.

Essa situação só começou a mudar efetivamente a partir do século XV, com a invenção da Imprensa, e a pura e simples verdade é que somente de três ou quatro séculos para cá (dentro de um panorama de dois milênios de história do cristianismo) é que a Bíblia veio aos poucos se tornando acessível a toda a população. Sendo assim, nós podemos comprovar, acima de qualquer dúvida, que asola scriptura (doutrina protestante segundo a qual somente a Bíblia serve como regra de fé e prática para o cristão) é totalmente absurda.

Dos dois mil anos de cristianismo, em mais de mil e quinhentos anos os cristãos não tinham acesso material e/ou intelectual à Bíblia! Não por acaso, foi a partir do século XV que surgiu e se estabeleceu o movimento protestante, erradamente chamado de "Reforma".

Por quê o termo "Reforma" é inadequado para se referir ao protestantismo? Vejamos: como é que se reforma uma casa? Simples: reconstruindo o que precisa ser reconstruído, corrigindo falhas, lixando, pintando, substituindo telhas, trocando o piso... Mas não é reforma demolir toda a casa e construir outra no lugar! Pois foi exatamente isso o que Lutero, Calvino e os pais do protestantismo fizeram: demoliram a casa, reduzindo as bases da fé cristã original a pó, e quiseram levantar uma outa construção no seu lugar. Uma construção totalmente irregular e desequilibrada, pois lançou fora o equilíbrio necessário dos três pilares para se tentar se equilibrar sobre um só, que é a Escritura.

Os verdadeiros cristãos, desde o início, sempre se conduziram no seguimento do Caminho, que é Cristo, observando a condução do Magistério da Igreja e a Tradição dos Apóstolos, mais até do que pela leitura das Escrituras, pois estas precisavam ser interpretadas e esclarecidas por aquelas. Este é um fato histórico insofismável, incontestável, atestado em todos os documentos e registros de que dispomos.

Continua...

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Símbolos e Significados

A palavra "símbolo" é derivada do grego antigo  symballein , que significa agregar. Seu uso figurado originou-se no costume de quebrar um bloco de argila para marcar o término de um contrato ou acordo: cada parte do acordo ficaria com um dos pedaços e, assim, quando juntassem os pedaços novamente, eles poderiam se encaixar como um quebra-cabeça. Os pedaços, cada um identificando uma das pessoas envolvidas, eram conhecidos como  symbola.  Portanto, um símbolo não representa somente algo, mas também sugere "algo" que está faltando, uma parte invisível que é necessário para alcançar a conclusão ou a totalidade. Consciente ou inconscientemente, o símbolo carrega o sentido de unir as coisas para criar algo mair do que a soma das partes, como nuanças de significado que resultam em uma ideia complexa. Longe de objetivar ser apologética, a seguinte relação de símbolos tem por objetivo apenas demonstrar o significado de cada um para a cultura ou religião que os adotou.

Como se constrói uma farsa?

26 de maio de 2013, a França produziu um dos acontecimentos mais emblemáticos e históricos deste século. Pacificamente, milhares de franceses, mais de um milhão, segundo os organizadores, marcharam pelas ruas da capital em defesa da família e do casamento. Jovens, crianças, idosos, homens e mulheres, famílias inteiras, caminharam sob um clima amistoso, contrariando os "conselhos" do ministro do interior, Manuel Valls[1]. Voltando no tempo, lá no já longínquo agosto de 2012, e comparando a situação de então com o que se viu ontem, podemos afirmar, sem dúvida nenhuma, que a França despertou, acordou de sua letargia.  E o que provocou este despertar? Com a vitória do socialista François Hollande para a presidência, foi colocada em implementação por sua ministra da Justiça, Christiane Taubira,  a guardiã dos selos, como se diz na França, uma "mudança de civilização"[2], que tem como norte a destruição dos últimos resquícios das tradições qu

Pai Nosso explicado

Pai Nosso - Um dia, em certo lugar, Jesus rezava. Quando terminou, um de seus discípulos pediu-lhe: “Senhor, ensina-nos a orar como João ensinou a seus discípulos”. È em resposta a este pedido que o Senhor confia a seus discípulos e à sua Igreja a oração cristã fundamental, o  Pai-Nosso. Pai Nosso que estais no céu... - Se rezamos verdadeiramente ao  "Nosso Pai" , saímos do individualismo, pois o Amor que acolhemos nos liberta  (do individualismo).  O  "nosso"  do início da Oração do Senhor, como o "nós" dos quatro últimos pedidos, não exclui ninguém. Para que seja dito em verdade, nossas divisões e oposições devem ser superadas. É com razão que estas palavras "Pai Nosso que estais no céu" provêm do coração dos justos, onde Deus habita como que em seu templo. Por elas também o que reza desejará ver morar em si aquele que ele invoca. Os sete pedidos - Depois de nos ter posto na presença de Deus, nosso Pai, para adorá-lo