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Excelências da Santa Missa – III

Terceira Excelência – A palavra de um homem opera o Sacrifício






Por S. Leonardo de Porto-Maurício, da Ordem dos Frades Menores

S. Leonardo de
Porto-Maurício
ADMIRAI-VOS, TALVEZ, de me ouvir dizer que a Missa é uma obra maravilhosa? E não é, com efeito, inefável Maravilha o que opera a palavra de um humilde sacerdote? Que língua angélica ou humana poderia explicar Poder tão excessivo?

Quem, jamais, poderia imaginar que a palavra de um homem, que não tem, naturalmente, a força de levantar da terra uma palha, receberia da Graça o poder surpreendente de fazer descer do Céu o Filho de DEUS?

Aí está um poder maior que o de transportar montanhas, esgotar o mar e abalar os céus; poder comparável, de certo modo, àquele primeiro Fiat com que DEUS fez surgir do nada todas as coisas, e que pode mesmo parecer sobrepujar, em outro sentido, aquele Fiat pelo qual a Virgem Santíssima atraiu a seu seio o Verbo Divino.

A Virgem Maria nada mais fez que fornecer a matéria do Corpo de Cristo, dela formado, de seu puríssimo sangue, mas não por ela nem por sua operação: enquanto que a voz do sacerdote, sendo instrumento de CRISTO no ato da Consagração, O reproduz de um modo novo e admirável, quer dizer, sacramentalmente, e isto tantas vezes quantas consagra.

O bem-aventurado João, o Bom, de Mântua, levou um eremita seu companheiro a compreender esta verdade. Este não conseguia se persuadir de que a palavra de um padre tivesse o poder de mudar a substância do pão no Corpo de JESUS CRISTO, e a do vinho em seu Sangue. O que é mais deplorável, tinha cedido a essa tentação diabólica. O servo de DEUS percebeu o erro do companheiro e, conduzindo-o a beira de uma fonte, aí encheu de água uma taça e deu-lhe de beber.

Depois de sorver toda a água, o outro confessou que jamais, em toda a sua vida, provara um vinho tão delicioso. Então João, o Bom, disse-lhe: “Não vedes o milagre, meu querido irmão? Se, por meio de um miserável como eu, a água se mudou em vinho pela onipotência divina, quanto mais deveis crer, por meio das palavras do sacerdote, que são palavras de DEUS, o pão e o vinho mudam-se no Corpo e Sangue de JESUS CRISTO? Quem ousaria jamais pôr limites à onipotência de DEUS?”. Bastou isso para dissipar o engano do eremita, que, expulsando de seu espírito toda a dúvida, fez grande penitência por seu pecado.

Um pouco de fé, – mas de fé viva, – e confessaremos que inúmeras são as prodigiosas prerrogativas contidas neste admirável Sacrifício. Aí veremos, com admiração, renovar-se a toda hora esse prodígio da sagrada humanidade de JESUS CRISTO, presente em milhares e milhares de lugares, e desfrutando, por assim dizer, de algo de imensidade que não possui nenhuma outra coisa, e só a este reservada, em recompensa do Sacrifício de sua vida, feita a DEUS Altíssimo.

Uma mulher fez com que um judeu incrédulo compreendesse esta verdade por meio de uma comparação material e grosseira. O homem achava-se numa praça com muitas pessoas. Nesse momento passou um padre que levava o Santo Viático a um doente. Todos os presentes se ajoelharam e prestaram homenagem ao Santíssimo Sacramento. Só o judeu ficou imóvel e não deu sinal algum de respeito. Vendo isso, a mulher levantou-se furiosa, arrancou-lhe o chapéu e deu-lhe um vigoroso bofetão, dizendo-lhe: “Desgraçado, porque não te prostras diante do verdadeiro DEUS presente neste Divino Sacramento?” – “Que Deus?”, replicou o judeu, “Se fosse verdade, a consequência seria haver muitos deuses, pois, ao celebrarem a Missa estaria um em cada um dos vossos Altares”. A estas palavras, aquela mulher tomou um crivo e, opondo-se ao sol, disse ao judeu que olhasse os raios filtrando-se pelos buracos. Em seguida, ajuntou: “Dize-me, há então muitos sóis passando pelas aberturas deste crivo, ou um só?” E, à resposta do judeu de que não havia senão um sol, a mulher replicou: “Por que te espantas, então, de que DEUS, feito Homem e feito Sacramento, possa ter, por um excesso de amor, uma Presença real e verdadeira sobre vários Altares, permanecendo, no entanto, uno, indivisível e imutável?”.

Foi o suficiente para confundir a incredulidade do judeu, que por esse raciocínio se viu constrangido a confessar a verdade de nossa Fé. Ó santa Fé! Apenas um raio de tua luz, e exclamaremos com fervor: Quem ousaria estabelecer limites à onipotência de DEUS?

Nesta grande concepção que tinha do poder de DEUS, Santa Teresa dizia, muitas vezes, que quanto mais sublimes eram os Mistérios de nossa fé, e profundos e impenetráveis à nossa inteligência, com tanto mais força e felicidade neles acreditava, sabendo bem que DEUS Todo-poderoso pode fazer prodígios infinitamente maiores. Reanimai, espontaneamente, vossa fé e confessai que este Divino Sacramento é o Milagre dos milagres, a Maravilha das maravilhas, e que sua maior excelência consiste em ultrapassar nossa pobre inteligência. E tomados de admiração dizei e repeti muitas vezes: Oh! Que grande Tesouro! Que imenso Tesouro! Se, porém, sua excelência prodigiosa não vos comove, que vos toque, ao menos, sua soberana necessidade.

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Fonte:
MAURÍCIO, Leonardo de Porto. As Excelências da Santa Missa, conforme a ed. romana de 1737 dedicada a S.S. o Papa Clemente XIIofie

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