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A Verdade, um estudo filosófico – parte II

Por Ir. Jean-Dominique, o.p.

Tradução de Euro B. de Barros



Artigo 2º — A verdade está no julgamento

A VERDADE NOS APARECEU como uma relação de conformidade, – no seu ato de conhecimento, – com o real. No seu segundo artigo, Santo Tomás estuda a verdade a partir do primeiro termo, a inteligência. No terceiro, irá estudá-la a partir do real, procedendo da seguinte maneira: compara a verdade lógica (verdade na inteligência) com a verdade ontológica (verdade das coisas), a fim de deduzir sua diferença e melhor determinar a primeira.

Verdade ontológica consiste na conformidade de uma coisa com a intenção daquele que a fez. “Uma coisa é verdadeira enquanto possui a forma que corresponde à sua natureza”. Fala-se, assim, de um couro verdadeiro (legítimo), de uma mármore verdadeiro..

A verdade na inteligência, de que estamos tratando, será, também, uma igualdade de “formas”: conformidade da natureza concreta da coisa com a inteligência que a conhece. Quando uma inteligência conhece, possui em si uma similitude intelectual da coisa, chamada conceito. Esta é uma nova perfeição da inteligência que faz com que ela conheça realmente a coisa. Esse conhecimento será verdadeiro quando houver conformidade entre os dois: “A inteligência, quando conhece, é verdadeira na medida em que possui similitude com a coisa conhecida”.

Mas bem se vê, pela experiência, que para estar na verdade não basta ter em si o conceito de uma coisa, nem que esse conceito seja conforme ao real. É preciso mais. Para que haja verdade, é necessário extrair essa conformidade. Observemos um exemplo: vejo uma vaca que pasta no campo. Experiências anteriores tinham formado em mim o conceito de vaca, que renasce na ocasião desse encontro, conceito que corresponde, efetivamente, à natureza desse animal. Haverá verdade quando eu tiver feito a relação entre esse conceito e a coisa real, quando eu conhecer a conformidade do animal à minha inteligência, e quando eu afirmar: "este animal é uma vaca".

“A inteligência conhece e diz a verdade quando julga que a coisa é tal qual a forma (o conceito) que ela extrai”. A questão do nosso artigo é esta: em que faculdade do conhecimento se situa a verdade assim entendida? Qual pode realizar essa comparação entre o conceito e o real, e afirmar sua conformidade? Para responder a isso, Santo Tomás procede por eliminação, passando em revista as potências cognitivas do homem.


1. O Conhecimento Sensível

Como os outros animais, o homem é dotado de sentidos que o abrem ao mundo exterior, permitindo-lhe certo conhecimento.

O conhecimento sensível começa pela atividade dos sentidos externos (visão, audição, tato, olfato, paladar). É uma percepção imediata do objeto fisicamente presente. Cada um apreende uma qualidade particular do real (cor, som, etc.), ao receber uma similitude sensível. “O sentido da visão tem em si uma similitude do objeto visível”.

O conhecimento sensível pode pretender a verdade? Sim, de certa maneira, dado que por ele o sujeito recebe uma imagem sensível do objeto. Cada sentido atinge imediatamente seu objeto, e, deste fato, a imagem que leva é fiel ao objeto. Porém essa conformidade, ela própria, não é conhecida. O sentido não percebe essa semelhança com o real. “O sentido da visão não conhece a relação que há entre a coisa que ele vê e o que representa”.
Não há, pois, propriamente, verdade lógica nos sentidos. Se se diz que a sensação é verdadeira, é sobretudo sobre o modelo da verdade ontológica. “A verdade pode estar nos sentidos (no conhecimento sensível) como numa coisa verdadeira” (ut in quadam re vera).

2. A Primeira Operação do Espírito

O conhecimento sensível, por exato que seja, não é menos limitado. Ele não nos entrega senão as características físicas do real. Ora, o homem não se contenta com esses conhecimentos. Ele quer ler mais profundamente nas coisas, quer descobrir o que as coisas são em si mesmas.

Um homem, por exemplo, acaba de apanhar, no seu jardim, um doríforo do Colorado. A uma amiga intrigada que lhe pergunta que animal é esse, ele não responde assim: Mede sete milímetros, é rajado de preto e branco, tem tal cheiro. Ele dirá: é um inseto, é um coleóptero, é um doríforo do Colorado.
Noutras palavras, revelará ao interlocutor a própria natureza dessa coisa, o que ela é, abstraindo suas qualidades sensíveis. Ora, este é o fato da inteligência.

Uma vez que a natureza de uma coisa ultrapassa suas propriedades físicas, é a uma potência imaterial que ele voltará a aderir, isto é, à inteligência. E, de fato, o primeiro “contato” da inteligência com o real sensível consiste em abstrair a natureza. Essa primeira operação do espírito se chama “a simples apreensão”. Sua função é descobrir o que é a coisa, ler sua quididade. Por abstração, forma o conceito da coisa.
Encontramos nessa operação da inteligência o assento da verdade, que estamos procurando neste artigo?


Respostas a algumas objeções

Como dissemos no início, a doutrina realista da verdade enfrentou uma violenta oposição. Os limites do nosso trabalho não nos permitem apresentar e refutar, pormenorizadamente, os filósofos que se fizeram chefes de escolas. Contentar-nos-emos em focalizar três objeções, dentre as mais propagadas, e a respondê-las brevemente.

1) A primeira objeção afirma que nossos sentidos nos enganam. Muitas experiências o comprovam, como, por exemplo, o bastão metido na água que parece quebrado, as miragens no deserto, o sonho que parece verdadeiro. Ora, considerando que a doutrina realista da verdade está fundada sobre o conhecimento sensível, ela seria como que um castelo construído na areia.

Santo Tomás responde a isso nos artigos 2 e 3 da I, q. 17. Ele observa, simplesmente, o funcionamento do conhecimento sensível. “Um sentido conhece uma coisa na medida em que uma similitude da coisa está nele [...] assim como na visão há uma similitude da cor” (a. 2). Ou “o sentido é informado diretamente pela similitude do objeto que lhe é próprio” (a. 3), isto é, pela qualidade sensível que ele considera na coisa física (a cor pela vista, o som pela audição etc.). É porque o sentido externo atinge imediatamente o seu objeto, sem nenhum intermediário, que o percebe infalivelmente. “O sentido não tem falso conhecimento quanto à sensibilidade que lhe é própria, a não ser por acidente, e em casos pouco numerosos. Porque isto decorre, então, do fato de o sentido não receber a forma sensível como lhe convém, por causa de uma má disposição do órgão. Por exemplo: alimentos doces são tidos como amargos por causa de uma doença que produz infecção na língua” (a. 2).

Essa exatidão do conhecimento dos sentidos externos é, aliás, uma evidência, simplesmente porque toda a instituição do nosso conhecimento, e mesmo da nossa vida, depende dele. Negá-la seria condenar-se a uma vida puramente vegetativa.

A experiência comum bem o demonstra. Para verificar se uma coisa existe ou não, o primeiro reflexo do homem é tocá-la, vê-la, senti-la. E, antes de aceitar uma nova tese científica, todos dirão: é preciso controlar, é preciso ver.

O exemplo do bastão que parece quebrado não é um erro dos sentidos. O sentido da visão transmitiu fielmente as informações que recebeu. O erro está no julgamento, que afirma: “Este bastão está quebrado”, erro que ocorre porque o sujeito procedeu como se o bastão fosse a única realidade. Não considerou a existência da água, que seus sentidos também revelaram, e que causou a aparência quebrada do bastão. O mesmo ocorre com as miragens.

Quanto ao sonho, a objeção é, pelo menos, estranha, porque compara duas coisas incomparáveis. O julgamento de quem está acordado, como dissemos, forma-se graças à atividade conjugada de dois princípios de conhecimento: sensação e inteligência. No caso do sonho, falta o primeiro fato. O julgamento, se o há, não pode ser um conhecimento real que percebe a existência real do seu objeto, mas somente um jogo de imaginação. Um (o julgamento no estado de vigília) é um julgamento autêntico, e pode, pois, pretender a verdade. O outro (no sonho) permanece no imaginário, e é fonte de ilusão.

Acontece que aquele que diz sonhar estando acordado, ou que diz ser ilusória uma sensação verdadeira, ou possui sentidos defeituosos, ou se recusa a render-se ao seu veredicto. Há um caso especial, fora do normal, e que merece ser tratado como tal. Não é porque certas pessoas vêem vermelho o que é verde que ninguém pode estar seguro de que aquilo que vê é vermelho ou verde. O fato de haver cardíacos não obriga a concluir que não se possa discernir um coração são de um doente. No caso em questão, um homem normal tem um meio infalível para saber se está no real: são os seus sentidos.

É preciso sustentar que os sentidos não nos enganam, e que eles são o ponto de partida de todo conhecimento humano verdadeiro.

2) A segunda objeção diz que todo conhecimento além do sensível é impossível. Aquilo que se chama “pensamento” ou “conceito” não passaria de associação de imagens.

Citemos, por exemplo, Condillac (1715-1780):

O julgamento, a reflexão, os desejos, as paixões etc. são apenas sensações que se transformam diferentemente (...) É razoável concluir que não temos, inicialmente, mais do que sensações, e que nossos conhecimentos e paixões são os efeitos dos prazeres e penas que acompanham as impressões dos sentidos. De fato, quanto mais refletirmos, mais nos convenceremos de que é a única fonte da nossa luz e dos nosso sentimentos.1

Três fatos experimentais respondem a essa objeção. Eles são tomados, cada um, de uma idade diferente da vida de um homem.

O primeiro é a gênese da vida intelectual de uma criancinha. Ela não pode exercer, no início, senão o seu conhecimento sensível. Neste, há um conhecimento imediato das coisas e das pessoas que a cercam. Ela reconhece antes seu pai e sua mãe. À medida que é posta em contato com um número maior de pessoas, passa a operar distinções e reagrupamentos. Passa a distinguir os homens e as mulheres, reunindo todos para diferenciá-los do cão. Depois, distingue, entre as mulheres, as da família (mamãe, titia...) das de fora. Ao fim de alguns meses, desenvolvendo-se-lhe o espírito, ela se volta, cada vez mais, para um conhecimento já não somente sensível e particular, mas imaterial e universal. Nas coisas que a rodeiam, ela não verifica somente os traços particulares, mas também as características comuns e as naturezas.

Tomemos, agora, o caso de um menino de sete anos. Seu pai o leva a uma estação ferroviária pela primeira vez. Ei-lo numa plataforma, de onde vê uma locomotiva. Não tardará a perguntar: “O que é isto?”.

Se o pai responde: “É azul”, o menino não ficará satisfeito. E assim permanecerá, se a cada “o que é isto?”, ouvir como resposta: “isto mede quinze metros”; “é feito de aço”, etc. Essas repostas, ao contrário, só irão atiçar sua curiosidade e aumentar sua impaciência. O fato é que ele tem sede de outra coisa. O que seu espírito busca está além dessas qualidades sensíveis. Porém, se o seu pai responde: “É uma máquina dotada de um grande motor que a faz andar sozinha e puxar vagões, levando pessoas a viajar”, a inteligência do menino se satisfaz. Ele compreende, enfim, o que é a coisa, conhece sua natureza. Elabora um conceito que poderá aplicar, quando for o caso, a qualquer outra locomotiva. Essa descoberta lhe permitirá, até, segundo a vivacidade do seu espírito, alcançar realidades ainda mais espirituais, como a causalidade eficiente, o movimento etc.

Uma terceira mostra de idade nos dá um exemplo similar. A juventude é uma idade em que a alma bem formada está pronta para empregar toda a sua vitalidade a serviço dos ideais maiores, é a idade dos grandes questionamentos. No limiar da vida adulta, o jovem se interroga, com certa ansiedade, a respeito dos fundamentos sobre os quais construirá sua vida. O que é o homem, a felicidade, o bem, a justiça, a organização política da cidade, Deus, a religião, o amor etc.?

Ora, somos obrigados a constatar que essas realidades ultrapassam, infinitamente, a ordem das coisas sensíveis. Isso aparece melhor se se considera a energia e, por vezes, o heroísmo de que o homem é capaz para defender essas verdades, energia e heroísmo que o fazem ir, freqüen-temente, contra as exigências da sensibilidade.

Essas três observações nos indicam, claramente, que o espírito humano se situa em uma ordem de coisas diversa da dos sentidos. Há, em cada homem, um apetite natural da inteligência, como que um instinto, que a compele a buscar, além do sensível, a própria natureza das coisas. Ela advinha que essas qualidades sensíveis não lhe informam a realidade em toda a sua plenitude. É a própria essência da coisa, o que ela é, que a inteligência quer alcançar.

O conhecimento sensível é ligado a tal ou qual realidade material, ele é particular, e pode traduzir-se por uma imagem.

O conhecimento intelectual, ao contrário, é imaterial, universal, e pode portar realidades que ultrapassem qualquer imagem (Deus, a verdade, o dever etc).
Elas são irredutíveis.

3) A terceira objeção é a do subjetivismo. Propõe que a doutrina realista da verdade é sufocante, e que nela o homem não teria a parte criativa e extensora que lhe é devida. A verdade seria, então, uma construção.

O pai dessa maneira de ver é Kant. Lê-se no prefácio da 2ª edição da Crítica da Razão Pura:

Immanuel Kant
Admitiu-se, até aqui, que todos os nossos conhecimentos deveriam regular-se pelos objetos; mas, nessa hipótese, todos os nossos esforços para estabelecer, a respeito desses objetos, qualquer julgamento a priori pelo nosso conhecimento não conduziria a nada. Que se pesquise, então, uma vez, se não seríamos mais felizes, nos problemas metafísicos, supondo-se que os objetos se regulam pelo nosso conhecimento.

Essa estrutura de pensamento “a priori” se espalhou por toda a parte. Dela encontramos traços sob a pena de João Batista Montini, futuro papa Paulo VI: “Estou persuadido de que um pensamento meu, um pensamento da minha alma, vale para mim mais do que tudo no mundo”.

Descrevemos acima a atividade complexa que conduz o homem à verdade. Essa atividade põe em jogo todas as suas faculdades; ele é ativo. Porém sua ação não é uma construção. Ela consiste, pelo contrário, numa adaptação do sujeito ao real. Conhecer uma coisa não é inventá-la, é descobri-la tal qual é.
A diferença profunda entre o subjetivismo e o realismo pode ser assim resumida: o realista é um livro, o livro do real. O subjetivista escreveu-o. Pode-se, então, perguntar por que esse livro pretensamente escrito, inventado, construído pelo homem, contém tantos sofrimentos, surpresas, mistérios. Ademais, esse sistema de pensamento não destrói o amor?

Pode-se, de fato, amar o que não se conhece? Ora, se conhecer algo é dar-lhe feitio, se todo conhecimento é transformante, não amamos no outro senão aquilo que nele tenhamos posto Não o amamos por ele mesmo, tal qual é, mas somente tal qual queremos que seja.

Uma analogia encerrará nossa resposta a essa objeção e resumirá o conjunto deste artigo. Um homem tem sobre sua mesa um lápis e uma régua. Suponhamos que ele deseje saber a dimensão desse lápis. Como fará para o saber? Tomará a régua e a aproximará do lápis. Tirará a medida do lápis, a qual lerá na escala. Então, observando o lápis e a medida, poderá afirmar: Este lápis mede 14,5 cm.

Qual é a causa da verdade dessa afirmação? Foi a régua que fez o comprimento do lápis? Não, foi o lápis que informou à régua o seu comprimento.
O mesmo ocorre no conhecimento humano. O lápis é o real. A régua é a inteligência. Esta “é aproximada” (ou melhor, entra em contato imediato) de seu objeto pelo conhecimento sensível. A simples apreensão abstrai do real sua natureza, ou uma qualidade que a determina. O julgamento extrai o conceito abstrato e o objeto, e afirma sua conformidade. Estará na verdade se se deixar “informar” pelo objeto. “Veritas consisti in commensuratione intelectus ad rem”, a verdade consiste na medida da inteligência pela coisa.

Resta-nos, para fechar este estudo, comentar os artigos 3 e 4 desta mesma questão 16, onde Santo Tomás estuda as relações da verdade com o ser e com o bem.
Para nos estimular no trabalho, leiamos o comentário de Santo Tomás sobre as palavras do Senhor: “Eu sou a Verdade” (Jo 14, 16). Introduzindo-nos no próprio coração de Deus, que dita o seu Verbo eternamente, ele nos indica o cume da verdade, para o qual devem tender todos os nossos esforços. Deixa-nos, assim, imaginar como uma sã filosofia pode servir à fé tornando-a mais penetrante. Enfim, mostra-nos a disciplina a que deverá submeter-se aquele que queira atingir a verdade total: Aderir ao Verbo, entrar na escola de Jesus Verdade.

Aos homens que têm sede de verdade, diz Jesus: “Eu sou a Verdade”. A verdade lhe vem por ele mesmo, pelo fato de que ele próprio é o Verbo. A verdade não é nada mais do que a adequação da coisa com a inteligência, o que se realiza quando a inteligência concebe a coisa tal qual é. A verdade da nossa inteligência nos vem, pois, do nosso “verbo”, que é a sua concepção (o “verbo” interior é o conceito que nasce na inteligência quando ela conhece. É a presença imaterial, como a proclamação, em nós, da coisa conhecida que nos torna a inteligência semelhante à coisa). Entretanto, mesmo que o nosso verbo seja verdadeiro, ele não é a própria verdade, dado que não é verdadeiro por si mesmo, mas pelo fato de que é adequado à coisa conhecida.

Para a inteligência divina, a verdade volta ao Verbo de Deus. Mas o Verbo de Deus é verdadeiro por si mesmo, dado que não é medido pelas coisas, ao passo que, ao contrário, as coisas não são verdadeiras senão na medida em que alcançam certa similitude com o Verbo. E, pois, o Verbo de Deus é a própria Verdade.
E, como ninguém pode conhecer a verdade se não adere à verdade, é necessário que quem deseje conhecer a verdade adira ao Verbo.


– III –

Assim como um menino segue seu pai, passo a passo, ao longo de um passeio na montanha, nós nos propomos a estudar o problema da verdade seguindo Santo Tomás de Aquino, na questão 16 da primeira parte da Suma Teológica.

No Preâmbulo, constatamos a necessidade vital, para todo homem, de conhecer a verdade.

O primeiro artigo permitiu-nos chegar à definição da verdade. Ela é a conformidade da inteligência com o real. A verdade nos apareceu, então, como uma relação entre dois termos: a realidade existente, de uma parte, e a inteligência no seu ato de conhecimento, de outra.

No segundo artigo, estudamos essa relação do lado do sujeito que conhece. Mostrando que a verdade se situa na segunda operação do espírito, o julgamento, Santo Tomás acentua, consideravelmente, o seu caráter objetivo. Porque é o julgamento que opera o retorno ao real concreto. Com essa afirmação, ele atinge a existência das coisas.

Resta-nos, agora, considerar essa mesma relação em conformidade com o lado do real. Vamos fazê-lo à luz do terceiro artigo dessa questão.

O artigo quarto, em que Santo Tomás estuda a ordem que existe entre o verdadeiro e o bem, estenderá o problema da verdade à vida humana inteira, à moral.

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1. CONDILLAC, Etienne Bonnot. Essay on the Origin of Human Knowledge, Cambridge: Cambridge University Press, 2001.
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Fonte:
A Verdade: estudo filosófico. DOMINIQUE, Jean. Campo Grande: Ed. Santo Tomás, 2003.

http://www.ofielcatolico.com.br/

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