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Católico e espírita?! – calúnias espíritas contra a Igreja

À esquerda, representação artística(?) do 'espírito Emmanuel', o suposto mentor de Chico Xavier


Um leitor que se identifica com o nome Jonas Souza enviou-nos a seguinte mensagem, ao post "Breve biografia de Allan Kardec e as origens do espiritismo":

Sou Católico, e tenho uma profunda admiração pelo Chico Xavier, pela pessoa humana que dedicou a vida em prol do próximo. O que está escarço na sociedade em que vivemos, não importa a religião, qual seja a doutrina ou credo, o amor ao próximo têm que existir acima de tudo, e ainda mais o respeito. Não somos seres capazes de entender o Criador, somos meras criaturas e assim como tudo criado, somos imperfeitos, dizer o que é certo ou errado não cabe a nos, quada qual têm seu modo de viver e como viver, em que acreditamos fica a cargo de cada consciência; vivemos em uma sociedade e não isolados em mundos particulares, respeitar a opinião do próximo se faz necessário para que possamos viver em harmonia."

ESTE ARTIGO não é apenas uma resposta a este leitor específico; antes, constitui uma necessária abordagem de nossa parte quanto a uma das situações mais estranhas com a qual, infelizmente, repetidamente nos confrontamos: a absurda figura do "católico-espírita", isto é, o sujeito que se declara católico mas simpatiza com o espiritismo ou admira algum(ns) de seus representantes. Certamente precisaremos de mais do que um único artigo para tratar de um tema tão amplo e importante, em seus muitos seus detalhes e nas múltiplas questões que suscita.

Antes de tudo, esclarecemos que não é a nossa intenção atacar os espíritas ou simpatizantes do espiritismo. Pretendemos, isto sim, elucidar, orientar e alertar o povo católico quanto à enorme incoerência daqueles que afirmam ser, a um só tempo, católicos e espíritas, demonstrando o tremendo grau da disparidade que há entre a doutrina espírita e a Sã Doutrina de nosso Senhor Jesus Cristo. Neste processo, não temos como nos eximir da necessidade de apresentar e esclarecer as graves difamações e calúnias que são frequentemente divulgadas por muitos dos representantes do espiritismo (muitas vezes alguns dos principais), em websites, revistas e livros, contra a Igreja Católica. Boa parte do povo católico ignora completamente esta importante realidade.

Chico Xavier jovem
Esta abordagem partirá de um exemplo prático e gritante – o mesmo trazido pelo nosso leitor – já que, apesar das polêmicas, Francisco Cândido Xavier é geralmente considerado o mais expressivo alegado “médium” espírita que houve no Brasil (sobre este controverso personagem já falamos com detalhes aqui). Há uma verdadeira multidão que, mesmo fora dos ambientes espíritas, vê os seus escritos como verdadeiras e valiosas revelações do além-túmulo. 

Até aí, não há problemas que diretamente nos digam respeito, já que não nos cabe interferir na liberdade que cada um recebe do próprio Criador para escolher o caminho que vai seguir. Trata-se, entretanto, não apenas de um problema particular, já que envolve o engano e a falsidade ideológica as quais, algumas vezes e em determinadas situações, enquanto exegetas católicos temos por obrigação analisar e procurar esclarecer (veja nossos artigos e estudos específicos). Vivemos, graças a Deus, num país democrático (apesar de todos os problemas) onde todos são livres para praticar a sua religiosidade desde que se respeitem os direitos do próximo: assim como ninguém é obrigado a ser católico ou espírita, todos temos o direito de expressar opinião e somos livres para debater ideias.

O mais grave problema, como já vimos, é que não são poucos os brasileiros que professam a fé católica mastambém consideram os livros espíritas, como os de Chico Xavier e Zíbia Gasparetto, entre muitíssimos outros, como obras “inspiradoras” e “reveladoras”. Para o espanto dos verdadeiros católicos, muitos destes preferem ler tais escritos a estudar as vidas dos grandes santos, os Padres da Igreja ou conhecer o Catecismo e mesmo os Evangelhos; eis o motivo de termos mencionado Chico Xavier logo no início deste artigo.

É verdade que essas atitudes equivocadas nem sempre ocorrem por má-fé. Alguns agem de consciência "leve", julgando ingenuamente que o fato de ser católico não impede de crer, por exemplo, na reencarnação, e incrivelmente não percebem o evidente (supremo) absurdo desta situação. Ocorre que a leitura de tais obras leva muitas vezes o católico a absorver um conhecimento totalmente deturpado da realidade, o que termina por subverter o seu raciocínio inclusive em relação à verdadeira história da Igreja fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo – a mesma à qual Ele prometeu que, contra ela, as portas do inferno jamais prevaleceriam (Mt 16,18) e junto da qual estaria até o fim deste mundo (Mt 28,20).

O livro “Emmanuel” é um ótimo exemplo. Nele, Chico Xavier pretende relatar casos "verídicos" que um alegado "espírito de luz", que ele chama exatamente de "Emmanuel", lhe teria relatado sobre a Igreja Católica. Note bem o leitor que não estamos a nos meter em assuntos doutrinais internos dos espíritas, e sim cumprindo a nossa obrigação de elucidar a nossa própria doutrina. São calúnias atrás de calúnias, cada qual mais absurda que a outra. O autor, de fato, descreve as mesmas afirmações proferidas por H. L. Denizard Rivail (ou Alan Kardec), que, por sua vez, as retirou de autores anticatólicos da época da Revolução Francesa e do chamado racionalismo francês.

Os trechos reproduzidos a seguir são da 4ª edição do Livro 'Emmanuel'. Assim diz Chico Xavier sobre as 'revelações' que lhe teriam sido ditadas pelo 'espírito Emmanuel':

1. A história do papado é a história do desvirtuamento dos princípios do cristianismo, porque, pouco a pouco, o Evangelho quase desapareceu sob suas despóticas inovações. Criaram os pontífices o latim nos rituais, o culto das imagens, a canonização, a confissão auricular, a adoração da hóstia, o celibato sacerdotal. Noventa por cento das instituições são de origem humaníssima, fora de quaisquer origens divinas (...)” (p. 30);

2. “O Vaticano não soube, porém, senão produzir obras de caráter exclusivamente material (...)” (p. 31);

3. “Ninguém ignora a fortuna gigantesca que se encerra, sem benefício para ninguém, nos pesados cofres do Vaticano (...)” (p. 57);

4. “Ele (o 'espírito Emmanuel') sabe que a Igreja “fez mais vítimas que as dez perseguições mais notáveis (...)” (p. 56);

5. “Ele conhece a imensidade de crimes, perpetrados à sombra dos confessionários penumbrosos (...)” (p. 52);

6. “Tem notícias do célebre livro de taxas, do tempo de Leão X, em que todos os preços de perdão para os crimes humanos estão estipulados” (p. 61);

7. “Sabe que o dogma da Santíssima Trindade é uma adaptação ocidental da 'Trimurti' da antiguidade oriental (...)” (p. 30).

Sim... É difícil ler tantas e tão grossas mentiras (não há como dizer de outro jeito), ainda mais pregadas em nome de um suposto "espírito de luz" ao qual o autor deu o sagrado nome Emmanuel – que os Evangelhos atribuem como título a Nosso Senhor e que significa "Deus Conosco" –, e manter a calma ou o respeito humano. Curioso é que são os espíritas os primeiros a exigir "respeito" logo que alguém lhes teça críticas, mesmo se baseadas em fatos concretos (nosso artigo puramente informativo sobre Chico Xavier, por exemplo, recebeu uma verdadeira tempestade de comentários furiosos exigindo 'respeito', e outros tantos que nos mandavam cuidar dos problemas de nossa própria Igreja).

Evidente que nenhum católico minimamente consciente seria capaz de ler as barbaridades enumeradas acima e não se indignar. Para os espíritas, porém, isso tudo foi “revelado” a Francisco Cândido Xavier por um espírito evoluidíssimo.

O que nos interessa em primeiro lugar é encontrar a resposta para o ponto mais essencial do problema: há alguma verdade nas afirmações apresentadas? Corresponderiam, afinal, essas pseudo-revelações à realidade objetiva dos fatos? Se sim, em que nível?

Analisamos breve e objetivamente as sete grandes calúnias espíritas listadas acima. Pretendemos publicar esta análise em duas partes, pela sua extensão. Segue abaixo a primeira; que seja de proveito aos nossos leitores, é o que rogamos a Deus pela intercessão da santíssima Virgem.


1 – 'A história do papado é a história do desvirtuamento dos princípios do cristianismo, porque, pouco a pouco, o Evangelho quase desapareceu sob suas despóticas inovações. Criaram os pontífices o latim nos rituais, o culto das imagens, a canonização, a confissão auricular, a adoração da hóstia, o celibato sacerdotal. Noventa por cento das instituições são de origem humaníssima, fora de quaisquer origens divinas.' (p. 30)

Diante de tantas acusações, será preciso analisar este item parte por parte, ou seja, observar e esclarecer cada uma das coisas que o “espírito” classificou como "desvirtuamento":


a) “Criação” do latim nos rituais?

Completo absurdo. O latim foi utilizado na Liturgia e nos escritos da Igreja, comprovadamente, já desde o século II, e com a expansão do cristianismo no Ocidente tornou-se idioma oficial (a partir do séc. III), tendo início o chamado período cristão da língua latina. A Missa provavelmente já era celebrada em latim em Roma, que se tornou a sede do cristianismo, desde os tempos de Pedro e Paulo. Com as invasões bárbaras e a queda do Império Romano, o latim tomou o lugar do grego também como língua de uso universal[1].

S. Jerônimo traduziu as Sagradas Escrituras do grego, hebraico e aramaico para o latim vulgar (vulgata), justamente para que pudesse ser bem compreendida por toda a cristandade. Sem sombra de dúvida o latim foi incluído na Liturgia dos ritos e na documentação dos ensinamentos não para "distanciar a Igreja do Evangelho", como mente Xavier em seu livro, passando-se por porta-voz de um “espírito de luz”: ao contrário, a Igreja o fez para aproximar e unir os cristãos, como sempre foi do seu maior interesse. Além de tudo, as línguas provenientes do latim são, hoje, maioria no mundo, o que por si só evidencia e corrobora esta simples realidade.

Podemos concluir, então, que o “espírito Emmanuel”, se existisse, teria se equivocado ou mentido. Não poderia ser, portanto, um “espírito de luz” (estaria mais próximo, realmente do 'pai da mentira'). Enquanto verdadeiros cristãos, lembramos a admoestação divina que nos foi transmitida pela pena do Apóstolo:

Ainda que um anjo do céu (ou um ‘espírito de luz’) vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, que seja anátema.
(Gl 1,8)


b) O papado 'criou o culto das imagens'?

Lamentável. Qualquer iniciante no estudo da História sabe que o uso das imagens no culto religioso é muitíssimo anterior à própria fundação da Igreja. Poderíamos dizer até que as imagens religiosas são inerentes ao conceito de civilização humana. Podemos também citar inúmeros exemplos de imagens confeccionadas por decreto divino, como a Arca da antiga Aliança (Ex. 25,18-20) com os querubins, a serpente de bronze de Moisés (Núm. 21,8-9) e o Templo de Salomão (1Reis 6,23-25 e 7,29), que era repleto de imagens esculpidas e em relevos, pinturas, tapeçarias, etc. Tudo isso muito antes de existir a Igreja. Não há absolutamente nenhum sentido em se afirmar que o papado "criou o culto das imagens". A única explicação de alguém proferir tal disparate tem que partir da pura ignorância, da má-fé ou de ambas combinadas.

Ainda se formos condescendentes e admitirmos que o trecho em questão pudesse se restringir ao contexto da Igreja, isto é, do Novo Testamento, veremos que este mesmo também nos apresenta uma grande variedade de imagens representativas da Glória de Deus. Vemos o Espírito Santo descer sobre o Cristo na forma de uma pomba (Mt 3,16); no Apocalipse, Jesus aparece sob a imagem de um Cordeiro, "digno de receber" todo Poder e todo louvor (Ap 5,12), e também sob a imagem de um Leão (o 'Leão de Judá' que triunfa para romper os Sete Selos). Por fim, é importante notar que o próprio Jesus jamais condenou o uso cultual das imagens no Templo de Deus, onde foi apresentado, onde pregou aos doutores da Lei e do qual expulsou os vendilhões.

Por fim, se avançarmos além da esfera do cristianismo, existem infinitos exemplos que poderíamos citar, oriundos de todas as religiões, inclusive (talvez principalmente) do brahmanismo, onde Kardec foi buscar suas ideias de “evolução do espírito” através de uma gigantesca sucessão de “reencarnações”, para misturar com figuras e conceitos cristãos e confundir o raciocínio dos ingênuos.

Como se vê, é facílimo demonstrar que, de fato, a Igreja não “inventou” o uso cultual das Imagens, principalmente no sentido pejorativo que o texto lhe confere. De fato, trata-se de uma acusação tola, simplória e pueril, que só poderia partir de uma mente embotada ou bastante confusa.


O papado inventou a canonização?

O que é a canonização dada pela Igreja? Simplesmente o ato de atribuir o estatuto de Santo a um cristão de vida exemplar, e é claro que só a Igreja poderia fazê-lo, já que santo é alguém que integra o Corpo Místico de Cristo (a própria Igreja) e cumpre os mandamentos de Deus e da mesma Igreja. Logo, negar a canonização é negar a existência dos santos –, e sabemos bem que o espiritismo o nega –, já que não admite a existência do Céu nem do Inferno, mas prega que estamos todos, sem exceção, num processo de constante evolução espiritual.

O papado inventou a canonização dos santos, num tempo posterior e num contexto estranho ao da pregação do Cristo, como insinua o texto espírita? Evidente que não, já que a Igreja desde sempre creu e venerou os santos, e prová-lo é tão simples quanto apontar as inúmeras e claras citações dos Apóstolos neste sentido (que já iniciam muitas de suas epístolas saudando 'os santos' de tal lugar).

Sendo assim, tal afirmação do suposto "espírito" deveria se traduzir numa das revelações mais importantes de todos os tempos! Só mesmo uma inteligência extra-terrestre poderia supor que os Papas criaram a canonização, muitos anos depois de Cristo, com a intenção de afastar a Igreja do Evangelho! Estamos diante de algo realmente novo e revolucionário, que poderia mudar a história do cristianismo e da humanidade como um todo... Se tivesse o menor fundamento na realidade. E, se tivesse, precisaríamos urgentemente avisar a todos os cristãos do mundo, reconhecendo inclusive que nem mesmo S. João teve quem o alertasse deste absurdo, quando escreveu no Apocalipse: “E da mão do anjo subiu diante de Deus a fumaça do incenso com as orações dos santos” (Ap. 8,4).

Mais ainda, a grande "revelação" deste incrível “espírito” mostraria que nem mesmo o Rei Davi, lá no Antigo Testamento, sabia o que estava dizendo quando proclamou: “Os céus louvarão as tuas maravilhas, ó Senhor, e a tua fidelidade na assembléia dos santos” (Sl 89,5). Ora, se foram os Papas que inventaram a existência dos santos – ou os termos que os definem –, por que já antes de Cristo se falava neles? Perdoe-me o dileto leitor, mas esse trecho não merece maiores explicações, a não ser a menção de que aqui é preciso escolher entre o que diz a Bíblia Sagrada, em consonância com a Santa Igreja, ou o que teria uma alma "desencarnada" desconhecida assoprado aos ouvidos de Chico Xavier. Enquanto cristãos, julgamos desnecessário aconselhar nossos leitores a optar pela primeira.

O papado inventou a confissão auricular?

Afinal, uma verdade. O “espírito”, ainda que claramente mal intencionado, acertou uma. Mas será que esse “Emmanuel” e Chico Xavier sentiam saudades do costume dos tempos da Igreja primitiva, quando as confissões eram públicas, feitas diante de toda a assembleia, e o perdão só era dado meses após a confissão?

Humildemente, ousamos afirmar que é bem mais cômoda e misericordiosa a confissão auricular, em que o fiel e um padre em particular conversam a sós, com toda a caridade, tranquilidade e privacidade, e este último concede em nome de Deus o perdão dos pecados, permitindo que de imediato volte o confessante a participar da Comunhão do Corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Especificamente na época em que o livro espírita foi escrito, a confissão era necessariamente feita no confessionário, com uma tela entre o padre e o confessor, que tinha por objetivo uma privacidade ainda maior, para que ninguém se sentisse envergonhado ou constrangido em confessar alguma falta mais embaraçosa. Tudo visava facilitar e tornar mais suave a obrigação do fiel. Para o “espírito Emannuel”, entretanto, isso é algo ruim, pérfido, planejado com sinistras e ocultas intenções.

Nunca é demais lembrar, neste ponto, que foi Nosso Senhor Jesus Cristo quem deu autoridade aos Apóstolos e aos seus sucessores para perdoar os pecados do povo (Jo 20,22-23). Por consequência, torna-se importantíssimo lembrar também que as Chaves do Reino dos Céus foram dadas a São Pedro e aos mesmos Apóstolos (Mt 16,18-19. 18,18. 28,16-20); consequentemente, aos seus sucessores, e não a “espíritos” desconhecidos, dos quais não temos como conhecer a origem, nem aos seus supostos “intérpretes”.


O papado criou a adoração da Hóstia?


Responder a acusações tão absurdas, tão sem pé nem cabeça, requer generosa dose de paciência, e como espanta saber que muita gente se perdeu e continua se perdendo em insanidades deste tipo! Ora, adorar a Deus é a prática cristã mais essencial, mais fundamental e a primeira entre todas, assim como era para os antigos judeus e para os praticantes de qualquer religião que professa a fé num Deus criador e todo-poderoso. Some-se a isto o fato de que nós, cristãos, cremos no que Jesus disse dEle mesmo: que é Deus e que está presente no Pão (Hóstia) e no Vinho consagrados, e surgirá mais do que clara a resposta quanto ao motivo de adorarmos o Santíssimo Sacramento do Altar. Não adoramos propriamente a hóstia em si, enquanto pão, porque seríamos estúpidos se o fizéssemos. Adoramos no Pão Consagrado a Jesus Cristo, Deus, Sacramentado.

Mais uma vez, algo tão simples que não merece maiores comentários. Se o leitor tiver dúvidas, leia mais a respeito neste estudo específico.


O papado criou o celibato sacerdotal?


A Igreja instituiu o celibato sacerdotal baseada nas recomendações diretas do seu Fundador, Jesus Cristo:

Nem todos são capazes de compreender o sentido desta palavra, mas somente aqueles a quem lho foi concedido. Porque há eunucos que o são desde o ventre de suas mães, há eunucos tornados tais pelas mãos dos homens e há os que a si mesmos se fizeram eunucos por amor do Reino dos Céus. Quem puder compreender, compreenda. 
(Mt 19, 11-13)

Todo aquele que por minha causa deixar irmãos, irmãs, pai, mãe, esposa, filhos, terras ou casa, receberá o cêntuplo e possuirá a vida eterna.
(Mt 19,29)

Também o santo Apóstolo confirmou a mesma admoestação, deixando-nos o seu testemunho nas Sagradas Escrituras quanto à excelência do celibato, pondo-se como exemplo: "Digo aos solteiros e às viúvas que lhes é bom se permanecerem assim, como também eu" (1Cor 7, 8-9).

É, portanto, condição preferencial para o sacerdote que seja celibatário, sacrificando assim integralmente a sua vida pelo Reino de Deus. Como bem diz Nosso Senhor, só pode compreender isso quem verdadeiramente possui tal vocação.

Assim, a instituição do celibato é extensível a todos aqueles que querem seguir Jesus Cristo na condição especial de sacerdotes. É importante notar que o celibato não foi uma imposição do Papa, mas a formalização de uma prática ostensivamente utilizada pelos sacerdotes desde sempre, sendo o decreto apenas uma forma de tornar oficial a prática informal. Note-se que não há nenhum registro histórico de manifestações contrárias a instauração oficial do celibato e, até hoje, salvo raras exceções, há consenso entre os presbíteros sobre a necessidade e o valor do celibato.

Portanto, algo que é praticado desde o começo da Igreja não poderia de modo algum ter sido feito posteriormente, com o fito de afastá-la das suas origens. Se quisessem reclamar com alguém, o “espírito” e Chico Xavier deveriam ter reclamado com o Fundador da Igreja Católica: o Verdadeiro e Único Emanuel, Deus Conosco: Jesus Cristo.


Noventa por cento das instituições católicas são de origem humaníssima, fora de qualquer origem divina(!?)?


Curiosíssima sentença para um autor que pretende contestar a origem divina da Igreja. Se noventa por cento é humano, então dez por cento é divino? Em que isto implicaria? E, neste caso, quem seria capaz de "peneirar a Igreja" para poder descobrir o que nela é divino e o que é humano?

Bem, o leitor que se dispuser a pesquisar a sério e com empenho terminará por descobrir que a realidade é o exato oposto disso! Noventa por cento ou mais de tudo aquilo que define a Igreja é de origem divina para os cristãos, pois foi revelado pelo Espírito Santo ou instituído diretamente por Jesus Cristo. O que dizer da Santa Missa, da Transubstanciação, dos Sacramentos, da Comunhão dos santos, das revelações e milagres, da compilação e canonização das Sagradas Escrituras, do perdão dos pecados (dado gratuitamente a todo aquele que se arrepende e se converte, sem nenhuma necessidade de ‘reencarnações’ sucessivas num processo infinito de evolução moral), da Imaculada Conceição de Maria, etc, etc?..

Substancialmente, são essas e outras realidades sagradas que compõem aquilo que define a Igreja. Tudo o que há fora disso são formas das quais a Igreja dispõe para subsistir no mundo.

Continua...

___
1. COMBY, Jean. Para ler a história da Igreja, das origens ao século XV, vol. I, 3ª ed. São Paulo: Loyola, 2001

http://www.ofielcatolico.com.br/

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